
A blockchain constitui uma estrutura de dados que utiliza tecnologia de registo distribuído para compilar informações de transações em blocos, os quais se interligam de forma cronológica através de criptografia, marcadores temporais e ligações de função hash, formando uma base de dados imutável, transparente e segura. Satoshi Nakamoto foi quem apresentou esta tecnologia pela primeira vez, no whitepaper do Bitcoin publicado em 2008, como arquitetura tecnológica fundamental para a criptomoeda Bitcoin, visando resolver o problema da dupla despesa nos pagamentos digitais e estabelecer confiança descentralizada. Através de mecanismos de consenso distribuído e princípios criptográficos, a blockchain permite criar sistemas de confiança sem entidades centrais, constituindo uma infraestrutura revolucionária para a troca de valor a nível global.
As raízes da blockchain remontam à investigação sobre tecnologia de marcadores temporais (timestamping) realizada no início dos anos 1990. Haber e Stornetta foram os primeiros a propor, em 1991, um sistema que recorria à criptografia para conectar de maneira segura blocos de dados. No entanto, só em 2008 o conceito de blockchain se consolidou, quando o whitepaper "Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System" foi divulgado por um programador ou grupo anónimo sob o pseudónimo Satoshi Nakamoto. Este documento detalhava a construção de um sistema de pagamentos eletrónicos sem dependência de instituições terceiras de confiança. No dia 3 de janeiro de 2009, a rede Bitcoin foi lançada oficialmente, dando início à implementação prática da tecnologia blockchain. Desde então, esta tecnologia evoluiu além da sua aplicação inicial em criptomoeda, expandindo-se para áreas como contratos inteligentes, finanças descentralizadas (DeFi), gestão da cadeia de fornecimento, entre outras.
O funcionamento da blockchain assenta em vários componentes tecnológicos centrais: redes distribuídas, mecanismos de consenso, função hash criptográfica e estrutura de blocos. Em redes distribuídas, cada nó participante guarda uma cópia integral do registo de transações. Quando ocorrem novas transações, os participantes transmitem-nas a toda a rede. Após verificação, agrupam-nas num bloco, que incorpora o valor de hash do bloco anterior, criando uma estrutura em cadeia. A inclusão de novos blocos requer mecanismos de consenso específicos, como Proof of Work (PoW) ou Proof of Stake (PoS). No PoW, os mineiros competem pelo direito de registar blocos resolvendo problemas matemáticos complexos; no PoS, o direito de registo depende da quantidade de moeda detida e do tempo de posse. Assim que um bloco é acrescentado à cadeia, torna-se extremamente difícil de alterar, pois isso exigiria modificar o valor de hash desse bloco e dos seguintes, bem como obter a aprovação da maioria dos nós na rede. Esta arquitetura em cadeia e o consenso de rede garantem a imutabilidade e elevada segurança da blockchain.
Apesar das múltiplas vantagens da blockchain, esta tecnologia ainda enfrenta desafios e riscos significativos. O primeiro é a questão da escalabilidade: atualmente, a maioria das blockchains públicas processa apenas um número limitado de transações por segundo, muito inferior à capacidade dos tradicionais sistemas de pagamentos. O segundo desafio diz respeito ao consumo energético, especialmente em blockchains que recorrem ao mecanismo Proof of Work, como o Bitcoin, que exigem elevados volumes de eletricidade. Os desafios regulatórios têm vindo a intensificar-se, com diferentes abordagens globais à regulamentação da blockchain e dos criptoativos, e com enquadramento legal incompleto que gera incerteza ao setor. A complexidade técnica e as vulnerabilidades de segurança constituem igualmente riscos relevantes. Embora a blockchain, em si, seja tecnologicamente segura, as aplicações desenvolvidas sobre esta podem apresentar vulnerabilidades, como vulnerabilidades no código dos contratos inteligentes. A gestão do equilíbrio entre privacidade e transparência levanta ainda outros desafios, uma vez que todas as transações em blockchains públicas são visíveis para qualquer participante, podendo não corresponder às exigências de privacidade em determinados contextos de utilização.
A tecnologia blockchain está a redefinir o modo como abordamos a troca de valor e os modelos de colaboração, criando sistemas de confiança descentralizados, transparentes e seguros. Trata-se não apenas da base das criptomoedas, mas também de uma infraestrutura essencial para a era da economia digital. Apesar das limitações técnicas e dos desafios regulatórios atuais, a blockchain tem potencial para responder a problemas de falta de confiança, dependência de intermediários e ineficiências dos sistemas convencionais. Com a evolução contínua da tecnologia, o alargamento das aplicações e a clarificação do enquadramento regulatório, é provável que a blockchain continue a ter impactos profundos em setores como inovação financeira, otimização da cadeia de fornecimento, gestão de identidade e segurança de dados, promovendo uma economia global mais aberta, eficiente e inclusiva.


