
Os ataques de repetição representam uma ameaça de segurança recorrente nas redes blockchain, em que agentes maliciosos intercetam transações legítimas numa blockchain e redifundem-nas noutra blockchain relacionada. Este vetor de ataque manifesta-se, sobretudo, após um hard fork, quando duas cadeias partilham o mesmo histórico de transações e mecanismos de assinatura, permitindo que as transações assinadas numa cadeia continuem válidas na outra e possam ser maliciosamente repetidas. Tal abordagem pode originar fenómenos de dupla despesa ou transferências não autorizadas de ativos dos utilizadores, colocando sérios riscos aos ecossistemas blockchain.
As origens destes ataques remontam às primeiras fases do desenvolvimento da tecnologia blockchain. Com o surgimento de criptomoedas como o Bitcoin e à medida que se tornaram mais frequentes os forks de redes blockchain, esta questão de segurança ganhou destaque. O risco mais notório de ataque de repetição ocorreu em 2017, quando o Bitcoin se dividiu em Bitcoin e Bitcoin Cash. Na ausência inicial de mecanismos eficazes de proteção contra repetição, era possível que as transações fossem repetidas entre ambas as redes. O Ethereum enfrentou desafios semelhantes nos seus hard forks, o que levou a comunidade de programadores a priorizar e investigar soluções para a prevenção dos ataques de repetição.
Do ponto de vista técnico, os ataques de repetição são viáveis sobretudo porque as várias cadeias resultantes de um fork utilizam formatos de endereço e algoritmos de assinatura idênticos. Nas transações em blockchain, os utilizadores assinam as operações com as suas chaves privadas para demonstrar a titularidade. Após um fork, os utilizadores tendem a manter os mesmos endereços e chaves privadas em ambas as cadeias. Sem mecanismos de proteção específicos, os atacantes podem simplesmente copiar os dados de uma transação de uma cadeia e submetê-los noutra. Dado que o mecanismo de verificação de assinaturas é idêntico, essas transações serão consideradas válidas também na segunda cadeia. Entre as soluções mais comuns para mitigar ataques de repetição destacam-se a implementação de isolamento de transações, a introdução de IDs de cadeia específicas, a utilização de formatos de transação exclusivos do fork ou a inserção de dados válidos apenas numa cadeia específica.
Os ataques de repetição comportam diversos riscos e desafios. Em primeiro lugar, do ponto de vista do utilizador, podem causar perdas inesperadas de ativos. Por exemplo, após um utilizador realizar uma transação numa cadeia, esta pode ser repetida por terceiros noutra cadeia, originando a perda dos ativos correspondentes em ambas as cadeias. Em segundo lugar, sob uma ótica técnica, a prevenção destes ataques deve ser contemplada desde a conceção da blockchain, pois a introdução de mecanismos de proteção numa fase posterior poderá implicar novos hard forks, aumentando a complexidade da sua implementação. Por último, no que respeita ao ecossistema, os ataques de repetição comprometem a confiança dos utilizadores nas redes blockchain, impactando negativamente o desenvolvimento saudável do setor. Acresce que, com o avanço das tecnologias cross-chain, as formas destes ataques continuam a evoluir, exigindo dos programadores monitorização contínua e atualização permanente das estratégias de defesa.
Garantir a prevenção dos ataques de repetição é fundamental para preservar a segurança das redes blockchain e salvaguardar os ativos dos utilizadores. À medida que a tecnologia blockchain amadurece, têm vindo a ser criados inúmeros mecanismos eficazes de proteção contra repetição. Para os projetos blockchain, é essencial ponderar e implementar soluções apropriadas de proteção antes de planear um hard fork; para os utilizadores, é igualmente importante conhecer os riscos dos ataques de repetição e atuar com precaução durante situações de fork. No futuro, com a adoção de tecnologias criptográficas como zero-knowledge proofs e computação multipartidária segura, espera-se que as redes blockchain possam criar mecanismos de proteção ainda mais robustos contra ataques de repetição, reforçando significativamente a segurança dos sistemas.


